domingo, 27 de fevereiro de 2011

RPG e Ensino

Pouco difundido nos meios educacionais, o Rpg (ou role playing game) talvez seja o jogo mais “temido”, “discriminado”, e ao mesmo tempo amado por jovens e adultos de todas as idades, seja pela interação entre os jogadores, ou pela diversão que proporciona. Todavia, é seu cunho cognitivo que o faz ser um recurso importante para o ensino de Língua Portuguesa e Literatura. É comum nas escolas estaduais os alunos apresentarem uma certa resistência às leituras propostas, sobretudo aos clássicos literários. Questões como “por que ler?” e “que importância pode ter para mim uma história de outra época?” são apenas algumas das dificuldades que o professor encontra em sua prática quotidiana.
O processo de construção do texto literário em Rpg necessita de um narrador atento, com personagens que interajam diretamente com o texto. A partir desta relação, a história torna-se um ato lúdico e intrínseco, gerando várias possibilidades de reconstrução e significações.
Mas, afinal, o que é o RPG? O Rpg é um jogo de interpretação, semelhante a uma peça de teatro, no qual não há um roteiro rígido a ser seguido, mas sucessões de fatos, desenvolvidos consoante a participação das personagens representadas pelos jogadores e mediadas por um ‘mestre.”
O mestre da crônica é o responsável pelo fio condutor que norteia o jogo. É de sua responsabilidade determinar, por meio do uso de dados ou apenas de lógica, se as personagens obterão ou não sucesso em suas ações. O mestre também representa os NPCs, ou seja, personagens não jogadoras, que servem como coadjuvantes e são essenciais para o desenvolvimento da trama.
No ensino de literatura, através da pesquisa e da leitura, o aluno tende a compreender de uma maneira mais próxima a realidade e o contexto de uma época a partir da composição e das características do papel que representará. Um exemplo de tal experiência foi desenvolvido para a aula de pós-graduação Lato-sensu da Universidade Católica de Santos, mais precisamente durante as aulas de Literatura Brasileira. A obra delimitada foi “Memórias de um sargento de milícias”, que por sua linguagem distante da atual é pouco usada, normalmente, para a prática de leitura de obras literárias em sala de aula. Num primeiro momento, o professor da série em questão deve explicar quais são os objetivos do jogo. Cada aluno representaria uma personagem, porém, para que os prelúdios fossem compostos, era necessário que cada um desenvolvesse e discutisse as peculiaridades da classe de personagem que representaria: comadre, miliciano, mestre de reza, cigano, compadre ou “amigo”, fato que os leva a mergulhar no universo literário de maneira prazerosa e atraente.
Enquanto utensílio instrução ou simples forma de entretenimento, a prática literária mediante o uso do Rpg é uma jóia (ainda) a descobrir. Resta, assim, a confiança de que um dia a literatura lúdica deixe de ser vista com o olhar da censura e da desconfiança e passe a ser concebida como uma alternativa de ensino válida e eficaz.