sábado, 26 de março de 2011

Ah, Vinícius!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Atualizações

Nossa lista de livros para donwload está atualizada. Clique no item "livros" do menu inicial e confira!

quarta-feira, 23 de março de 2011

    Soneto da perdida esperança
Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa

com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.
Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond

terça-feira, 22 de março de 2011

Um pouco de Fernando Pessoa

Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. (s.d.)
 
L. do D.
Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie - nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.
Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.
Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão. «Fabricou Salomão um palácio...» E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso: depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei: hoje, relembrando, ainda choro. Não é - não - a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.
Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico.Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.

fonte: http://www.revista.agulha.nom.br/1fpessoa013p.html

domingo, 20 de março de 2011

Pesquisa em sala de aula e cognição

Introdução:
Raramente disseminado, o ensino através da pesquisa é um instrumento importante e pouco utilizado pelos professores de Ensino Fundamental e Médio das escolas públicas em sua amplitude. Assim sendo, é importante desmistificar o julgamento de que pesquisar é apenas “descobrir conceitos”, o que torna tal experiência um fenômeno importante na construção do conhecimento.
Uma prática muito comum é solicitar que sejam feitas ”pesquisas” de conteúdos dos quais “não se dá conta” ou daqueles que são “menos agradáveis” aos olhos do professor, todavia o ato de pesquisar é, ou deveria ser, um exercício importante para a assimilação de novos saberes, a partir dos quais teoria e prática constituiriam um amálgama.
Desta forma, o presente texto tem por objetivo refletir sobre o papel da pesquisa na prática de ensino e aprendizagem, a partir do suporte teórico das obras de Pedro Demo, Maurivan Güntzel Ramos, Tereza Maria Frota Haguette, Edgard Morin, Perrenoud e Vygotsky, através de uma metodologia linear, visando, assim, contribuir para estudos e conjecturas posteriores.
Pesquisa em sala de aula e cognição

Ao ensinar alguém, é importante que se tenha em mente uma competência pedagógica que relacione os conteúdos a objetivos e situações de aprendizagem. A partir de tal junção de aptidões, há uma espécie de domínio com regular fluência e distância para a constituição de conjunturas abertas e tarefas intrínsecas, favorecendo uma assimilação ativa na transferência dos saberes, sem passar necessariamente por uma exposição sistêmica.
Assim sendo, a metodologia pedagógica que envolve o ensino através da pesquisa, além de contextualizar e traduzir a Dez novas competências para ensinar, de Philipe Perrenoud (Perrenoud, 2000), culmina num processo de enriquecimento individual ou coletivo.
A aprendizagem através da pesquisa, é sustentada através da orientação para que os alunos adquiram, desenvolvam e usem ferramentas próprias em uma legítima atividade de aquisição. Portanto, o processo de aprendizado deixa de ter um cunho mecanicista e consente que haja um avanço ímpar, mediante a interação social colaboradora e o constituinte dinâmico do conhecimento, sem que haja, desta maneira, sua alegorização.
Segundo Pedro Demo, “desmistificar a pesquisa há de significar também o reconhecimento da sua imisção natural na prática, para além de todas as possíveis virtudes teóricas, em particular sua conexão necessária com a socialização do conhecimento.”(Demo, 2001, p. 14)
Considerada por alguns como apropriada apenas a “entes especiais", a pesquisa deve ser um instrumento acessível e emancipador, a fim de permitir a criação e o contato com novos paradigmas. Quando o professor propõe um tema a ser estudado, é crucial que se faça a delimitação do objeto de exame, elaborando um recorte preciso do assunto que será desenvolvido. A partir do recorte, as etapas seguintes (levantamento bibliográfico, pesquisa de campo, etc) devem considerar o cruzamento das informações que resultarão no aperfeiçoamento e/ou criação de uma ideologia.
Contudo, muitas vezes o professor sente dificuldade em se adaptar ao papel de mediador do conhecimento, uma vez que suas expectativas e aspirações pessoais esbarram em carências de formação acadêmica e contínua, haja vista o fato de muitas universidades terem adotado os trabalhos monográficos apenas a partir de 2000, o que de certo modo adiou a iniciação científica por parte de muitos graduados em licenciatura que entraram no exercício da função docente.
Portanto, um dos fatores que dificulta a prática de pesquisa é a ausência de uma reflexão ativa por parte dos próprios educadores, uma vez que, para muitos, professor e pesquisador são carreiras distintas e heterogêneas, conforme nos lembra Pedro Demo:
“Tomada como marca definitiva da nossa realidade educativa e científica, muitos estão dispostos a aceitar universidades que apenas ensinam, como é o caso típico de instituições noturnas, nas quais os alunos comparecem somente para aprender e passar, e os professores (...) somente dão aula.“( Demo, 2001, p. 12)
É necessário, porém, ressaltar que pesquisar nada tem a ver com “copiar”, posto que enquanto o primeiro é um ato enérgico e ao mesmo tempo reflexivo, o segundo pode ser a mera reprodução passiva de textos ou fragmentos sem um sentido relevante. Logo, a coleta de informações em dimensões simplistas não estimula a conquista e a interação por parte do educando (de qualquer nível), mas, ao contrário, reduz seu repertório de informações, já que é possível que até exista a absorção de um conceito, todavia, a sua adaptação ao pensamento pode ficar comprometida.
O papel do educador é, assim sendo, o de um gerenciador didático, uma vez que sua função é auxiliar os alunos em suas investigações de modo a encontrar um ponto de entrada em seus sistemas cognitivos, desestabilizando-os apenas o suficiente para leva-los a restabelecer o equilíbrio, através da incorporação de novos elementos aos pré-existentes, reorganizando-os e (re)construindo-os sempre que necessário.
No ensino fundamental os alunos não concebem a pesquisa como “várias etapas de investigação de um organismo”. Ao contrário, é comum o professor encontrar textos inteiros compilados sem uma inquietação em discutir o conteúdo e/ou imprimir um ponto de vista pessoal ao tópico proposto, como Maurivan Güntzel Ramos discute:
“Uma das fortes críticas que as instituições educativas em todos os níveis, têm sofrido é a de servir à reprodução social. Essa reprodução advém dos métodos empregados pelos professores e administradores educacionais, centrados na cópia, na repetição, no prêmio e no castigo. É claro que a reprodução, de responsabilidade das instituições, é reforçada na vida familiar e fortemente influenciada pelos meios de comunicação”( Maurivan Güntzel Ramos, 2002, p.26)
Muitas vezes, as propagandas televisivas ajudam a mistificar a pesquisa como “ato copista”. Um exemplo de tal afirmação é a campanha publicitária do provedor de internet Uol, no qual uma professora solicita que os alunos entreguem um trabalho de pesquisa sobre Pitágoras. Um deles, no entanto, por não ter, supostamente, acesso à internet, surge aos olhos do expectador caracterizado como um ser primitivo, e à margem do sistema que o cerca. Em seguida, a câmera “corta” para uma outra criança, já fazendo uso da internet através do veículo Uol, tecendo uma breve demonstração de seus benefícios.
O uso das diferentes tecnologias é um organismo valioso para a prática de ensino e aprendizagem. A internet, por sua vez, poderia estabelecer um vínculo de aproximação entre pesquisador e conteúdo, porém é necessário que haja uma conscientização do papel que tal tecnologia pode assumir na prática educacional, evitando, desta maneira, uma coletânea desnecessária de informações sem reflexão e juízo de valor sobre sua importância na formação individual e coletiva.
Durante o Ensino Médio, a pesquisa assume um papel de contornos mais delineados (mesmo que muitas vezes ainda seja insuficiente) através da prática de seminários em diferentes disciplinas. Mas, mesmo quando há uma orientação adequada ao exercício da pesquisa, existe também uma outra problemática a discutir: a importância da argumentação e da inserção de um ponto de vista ante o substrato investigado, desenvolvido e formulado.
Outro fator que colabora para que a pesquisa seja mais difundida no Ensino Médio está contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que prevê o uso de diferentes técnicas na prática de ensino e aprendizagem. Contudo, o seu uso não é elemento sine quar non para a obtenção de conhecimento ou para estimular a prática cognitiva através da pesquisa, porém ao ter contato com as novas linguagens, é possível que haja um estímulo maior, passível de despertar o interesse do aluno.
Retomando a linha de pensamento de Maurivan Güntzel Ramos, “o desenvolvimento de nossa capacidade argumentativa pode contribuir para qualificar nosso papel social (...) para argumentar, é necessário que nos tornemos sujeitos, inserindo-nos com consciência no discurso em que estamos imersos, com competência para participar e também decidir”.( Maurivan Güntzel Ramos, 2002, p.27)
É importante ressaltar que a pesquisa sem a exposição de argumentos não tem uma funcionalidade educativa muito ampla. Uma citação que pode ilustrar a hipótese que envolve a argumentação, ainda sob a perspectiva de Maurivan Güntzel Ramos, é a seguinte:
“(...) a argumentação faz parte da nossa vida. Vivemos numa sociedade comunicativa e argumentativa, na qual as questões relacionadas são tratadas com o emprego do diálogo, pela conversa. Não havendo diálogo, tornam-se impossíveis os acordos”( Maurivan Güntzel Ramos, 2002, p.28)
A argumentação, ou melhor, o diálogo argumentativo entre o aluno e sua pesquisa acaba por implicar num processo de sistematicidade acentuada pela autoconsciência, visto que o educando deixa de ser um leitor dos elementos obtidos e passa a inferir de modo crítico e até mesmo político, o que culmina na maturação de idéias e conceitos. A pesquisa requer, desta maneira, um estado de percipiens , no qual não existe espaço para passividade e sim para o dinamismo mútuo entre o sujeito e seu objeto de estudo.
Se o ato de pesquisar requer dinamismo e interação, já que é visível a liberdade em construir e desconstruir novos conceitos e ideologias, por que a difusão da pesquisa não faz parte da prática educativa brasileira? As respostas são múltiplas e pertinentes a uma discussão posterior, entretanto a necessidade de uma “tradição de pesquisa” deveria ser inserida na cultura pedagógica nacional desde as séries iniciais.
Para que a pesquisa seja um instrumento de cognição, é preciso que haja envolvimento, em proporções pré-determinadas, por parte de alunos e professores, a fim de garantir uma progressão. A atividade que envolve uma pesquisa é quase sempre emocional, intelectual e relacional, de acordo com Perrenoud. Ao se sentir desencorajado, por exemplo, o aluno muitas vezes deixa de buscar, com parcial interesse, o conceito que se esconde atrás da pesquisa, rechaçando-o. Deste modo, o professor deve ficar atento a tal atividade, de maneira a encorajar e conduzir, sempre que preciso, o aluno no caminho da pesquisa.
Ao incluir a pesquisa em sua arte pedagógica, o educador deve demonstrar aos alunos a importância e a funcionalidade de tal exercício. Mesmo que algumas vezes o educando encontre alguns obstáculos no processo de construção de sua pesquisa, as próprias dificuldades podem culminar num novo eixo temático a ser discutido, a partir do qual novos dispositivos e até mesmo seqüências didáticas acabam sendo replanejados.
A temática que envolve o ensino mediante o ato de pesquisar também esbarra nas justificativas de que a falta de materiais e acesso às novas tecnologias impede sua prática quotidiana nas salas de aula. De fato, a ausência de tais referenciais nas escolas públicas dificultam o referido exercício, contudo, não evitam que a prática pedagógica tenha seqüência e eficácia.
Considerações finais:

O ato de pesquisar na educação básica é um método que mereceria mais atenção por parte de educadores, coordenadores pedagógicos e gestores das unidades de ensino. Porém, conforme o relato já apresentado, existe a necessidade de inserir tais pensamentos no dia a dia do professor, levando-o a uma reflexão acerca do que ensinar e que papel pedagógico deve ocupar.
Cabe lembrar que, se por um lado uma boa parte vê na pesquisa apenas um meio para cumprir os conteúdos propostos no plano anual e/ou bimestral de ensino, há uma nova tendência em trabalhar os projetos da Secretaria Estadual de Educação através de múltiplos horizontes, dentre os quais pouco a pouco de imiscui a pesquisa. Resta, assim, a expectativa de que a mudança de pensamento no ensino superior se reflita no ensino público, fato que contribuiria, em suma, para a verdadeira consciência cidadã.


Referências bibliográficas:

• PERRENOUD, Philipe. Dez novas competências para ensinar. PORTO ALEGRE: ARTMED, 2000.
• DEMO, Pedro. Pesquisa princípio científico e educativo. São Paulo: Caortez editora, 2001. 8a. edição
• VIGOTSKY, L S. Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1996 – 2º PARTE
• ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em escola reflexiva. (Capítulos 1, 2 e 4. Sã Paulo: Cortez, 2003.
• MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, UNESCO, 2000.
• GÜNTZEL RAMOS, Maurivan. Educar pela pesquisa é educar para a argumentação. In: MORAES,
Roque et LIMA, Valderez Marina do Rosário. Pesquisa em sala de aula: tendências para a educação em novos tempos.Porto Alegre: Edpucrs, 2002.
• FROTA HAGUETE, Tereza Maria. Universidade: nos bastidores da produção do conhecimento. In: BIANCHETTI, Lucídio et NETTO MACHADO, Ana Maria. A bússola do escrever: desafios e estratégias na orientação de teses e dissertações. Florianóplis/São Paulo. Editora da UFSC e Cortez. 2002.